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Trabalho em grupo resulta em vantagens aos produtores, trazendo segurança e garantindo altas produtividades na lavoura e na pecuária
Tradições são legados passados de geração para geração. É assim com costumes, crenças, objetos, conhecimento, entre outros. Dentro desse conjunto de valores, quando se trata de agronegócio, o cooperativismo é uma desses ensinamentos deixados de pai para filho. Uma vez cooperado, sempre cooperado, afinal, como o slogan de uma cooperativa de crédito (Sicredi) diz, “gente que coopera, cresce”.
De tudo isso, o produtor agrícola e pecuário Renan Gomes é bem ciente. Cooperado há cinco anos da Castrolanda, sediada em Castro, ele é a nova geração de uma família pertencente ao cooperativismo há décadas, cujo seu pai, Dalnei Gomes, integra a Castrolanda há mais de 30. “Quando trabalhamos junto com uma cooperativa, trabalhamos em grupo. E como em todo trabalho em equipe, acabamos trabalhando mais tranquilos nas decisões, porque entende-se que elas são acertadas. Temos uma vantagem maior, mais segurança, e com isso estamos satisfeitos ano a ano, colhendo os resultados”, resume o jovem cooperativista, de 25 anos. “Sempre fomos cooperados. Desde minha primeira lembrança de vida, meu pai já era cooperado, e eu sempre segui isso também”, completa.
No Estado do Paraná, o cooperativismo nasceu na região dos Campos Gerais, onde foi fundada a primeira cooperativa do Estado e a segunda do Brasil, em 1925. Trata-se da Batavo, a qual passou a adotar o nome de Frísia em 2015, que nasceu na cidade de Castro, na Vila Carambehy (emancipada de Castro em 1995, se transformando no município de Carambeí), criada por sete sócios que tinham uma produção de 700 litros de leite por dia, transformados em manteiga e queijo. Com o passar do tempo, mais cooperativas foram fundadas e elas foram se fortalecendo, se tornando referência no campo e praticamente indispensáveis para os produtores com maior volume de negócios. Não à toa os municípios dos Campos Gerais são referência em praticamente tudo que produzem, seja na agricultura ou na pecuária, devido à tecnologia de ponta empregada, alto investimento, capacidade de gestão e assistência.
A presença da cooperativa na produção se faz desde o início, do planejamento de uma safra, e isso se torna ainda mais relevante em certos períodos da economia, como por exemplo no atual cenário da pandemia do coronavírus. “Da mesma forma que o mercado de carros novos está com problemas pela falta de produtos, o setor agrícola também é impactado. Então quando trabalhamos em cooperativismo, sabemos que foi feito o planejamento, que haverá bons profissionais comprando os insumos: não é comprar o que tem. E em grande volume temos a vantagem de os custos serem mais baixos, e depois, na revenda, há a vantagem de ter uma remuneração mais alta”, relata.
Na Fazenda Bela Manhã, além da produção leiteira, como outros quase 400 cooperados da Castrolanda, Renan informa que sua família produz soja, milho e feijão na safra de verão, e trigo e cevada no inverno. As proporções são de 53% para soja, 27% para milho e 20% de feijão, considerando as duas safras deste último alimento, ao passo que no período mais frio do ano a cevada ocupa 1/3 da área do trigo. “Tanto na pecuária de leite quanto na agricultura a Castrolanda cuida da parte técnica de forma bem pontual, com profissionais orientando, trabalhando em um projeto como um todo. Temos grande confiança com isso”, reforçou Gomes.
E o resultado não poderia ser diferente de uma produção muito acima da média estadual e nacional. Na pecuária está o maior exemplo, informou o gerente executivo de negócios leite da Castrolanda, Eduardo Ribas. “Em relação à média nacional, os rebanhos da nossa região produzem cinco vezes o volume de leite por vaca/dia”, frisa.
Faturamento se aproxima de R$ 10 bilhões
Com base no ranking Valor 1000, uma das mais conceituadas publicações das maiores empresas do país, a Castrolanda, a Frísia e a Capal estão entre as 30 maiores cooperativas agropecuárias do país. A Castrolanda, que fechou 2020 com uma receita líquida de R$ 4,3 bilhões, se destacou na 7ª posição do Paraná e na 13ª do Brasil, seguida de perto pela Frísia, que com a receita de R$ 3,61 bilhões, fechou o ano na 8ª colocação estadual e na 15ª nacional. Já a Capal atingiu um faturamento de R$ 2,05 bilhões, chegando na 13ª posição estadual e aparecendo como a 28ª maior empresa agropecuária do Brasil.
Contudo, somadas todas essas receitas, o valor atingido é R$ R$ 9,97 bilhões, montante que coloca esse intercooperativismo na quinta colocação no ranking nacional das empresas agropecuárias. No ranking geral, que engloba todos os tipos de empresas, essa soma apareceria na sexta posição estadual, atrás apenas da Coamo (R$ 18,8 bilhões de faturamento), Copel (R$ 18,6 bi), C. Vale (R$ 12,4 bi), Fertipar (R$ 11,96 bi) e Lar (R$ 10,5 bilhões), à frente de grandes indústrias com sede no Paraná, que aparecem logo na sequência no ranking, como a Renault (R$ 8,87 bi), Volvo (R$ 7,8 bi), Rumo (R$ 6,96 bi) e Electrolux (R$ 6,92 bi).
Intercooperativismo amplia mercados e traz competitividade
Principais cooperativas da região se unem na industrialização, através da marca Unium
Se não há nada tão bom que não possa melhorar, o cooperativismo, esse modelo que dá tão certo, encontrou uma forma de ficar ainda melhor, através da união de cooperativas. É o famoso intercooperativismo. Nos Campos Gerais, um dos principais exemplos é o praticado pela Castrolanda, Frísia e Capal, que apesar de uma longa parceria por décadas por suas raízes holandesas, há alguns anos iniciaram um projeto de industrialização em conjunto, tomando forma em 2017, com a criação de uma marca específica para o mercado. “A intercooperação por meio da Unium nasceu de um desejo que as cooperativas tinham de se industrializarem. Falando pela Castrolanda, este processo de industrialização seria muito mais lento se fosse feito sem a intercooperação. Separadamente não tínhamos tamanho e nem produção em escala para fazer isso. Além disso, a intercooperação resulta na redução de custos, ganho de competitividade e conquistas de mais mercados”, avalia Willem Bouwman, presidente da Castrolanda.
A Unium hoje possui cinco unidades industriais e mais de 5 mil cooperados. No ramo lácteo, são três plantas industriais, que processam 3,5 milhões de litros de leite ao dia; na pecuária suína há a Unidade Industrial de Carnes da Alegra, com capacidade de abater mais de 4 mil animais ao dia, e na agricultura há o moinho de trigo Herança Holandesa, com capacidade de processar 150 mil toneladas ao ano. Dessa industrialização, resulta os produtos que levam as marcas Alegra, Herança Holandesa, Naturalle e Colônia Holandesa, no varejo.
Todo esse processo garante um maior faturamento às cooperativas integrantes, explica Auke Dijkstra Neto, gerente de estratégia e inovação na Frísia. “A verticalização da cadeia é um passo fundamental para agregar valor à matéria prima dos cooperados e geração de receita para as cooperativas. A industrialização tem uma segunda vantagem, permite à cooperativa mais flexibilidade à produção dos cooperados, que vem crescendo a cada ano. Hoje, a Unium se tornou um exemplo de prática cooperativista que é referência nacional”, reforça Dijkstra.
Associação entre as cooperativas é de longa data
Capal, Frísia e Castrolanda já atuavam juntas no passado, com a marca Batavo, bastante conhecida na área de lácteos, até que ela foi comercializada para o grupo Parmalat, em 1998. A marca Batavo foi criada em 1928 e ganhou mais força com a criação, em 1954, da Cooperativa Central de Laticínios do Paraná (CCLPL), controlada pelas cooperativas Castrolanda, Arapoti (hoje Capal) e Batavo (hoje Frísia). Depois da venda, há pouco mais de 20 anos, elas ficaram pouco mais de uma década sem industrialização conjunta, até que em 2011, a Frísia e a Castrolanda voltaram a se unir, para a industrialização láctea, com a marca Colônia Holandesa, e em 2012 as três cooperativas voltaram a se unir ao anunciar o investimento na industrialização de suínos, que veio a se consolidar três anos depois, quando foi inaugurada a fábrica da Alegra, em Castro. Neste meio-tempo, também pela intercooperação tripla foi anunciado, construído e inaugurado (2014) o moinho Colônia Holandesa, em Ponta Grossa.
Investimento em maltaria em Ponta Grossa atingirá R$ 3 bilhões
Um dos últimos investimentos anunciados pelas três maiores cooperativas da região (Frísia, Capal e Castrolanda) foi o da Maltaria Campos Gerais. Aliadas à Agrária, Bom Jesus e Coopagrícola, em uma intercooperação maior, a indústria será construída em Ponta Grossa, em um aporte inicial de R$ 1,5 bilhão, parte de um projeto previsto de R$ 3 bilhões na segunda fase, podendo se transformar na maior maltaria da América Latina.
Esse aporte, cuja pedra fundamental foi descerrada em novembro último, já começa a mudar a realidade de cooperados, que já vislumbram ampliar o plantio da cevada na região. Renan Gomes explica que sua família planta cevada há cinco anos, e que o projeto incentiva a expansão desse cultivar. “A maltaria ainda vai levar um tempo para ficar pronta, então temos olhado com otimismo e mantendo a área para que, a partir do ano que vem, possamos aumentar a área cultivada de cevada”, disse. “Podemos plantar 50% de trigo e 50% de cevada nas próximas safras de inverno ou até mesmo chegar em 60% de cevada e 40% de trigo. Há tabus para vencer, como a falta de variedades para o plantio, mas já temos feito o planejamento estratégico pensando nas próximas safras”, informou o cooperado.
Hoje, diz Gomes, para o mercado futuro os contratos estão garantindo uma rentabilidade melhor que a do trigo, o que é interessante, mesmo que o cultivar seja mais sensível à redução de produção ou queda na qualidade (o que impossibilita o uso no mercado cervejeiro, por exemplo). Além disso, a cevada é boa para o próprio campo, para a safra seguinte, de verão, para o plantio direto. “Ela deixa muita palhada no solo: quando se fala em produção de 5 toneladas por hectare, ela deixa 5 toneladas de palha. Então ela deixa muita palhada, que se transforma em matéria orgânica, e isso se reflete na produtividade”, finaliza.