Com 80 anos, Reinder Mattheus Barkema conserva costumes da terra natal e incentiva seis filhos a seguirem seus passos
No dia 17 de março de 1954, a família Barkema deixava a Holanda rumo ao Paraná. Eles fazem parte de um grupo importantíssimo na formação do estado: o dos imigrantes. Com 80 anos de idade, Reinder Mattheus Barkema lembra com clareza das datas e fatores que fizeram sua família deixar Ten Boer, um antigo município do nordeste da Holanda, na província de Groningen, em busca de novas terras. “Nós éramos em onze filhos e meus pais sabiam que lá não teríamos terra para gerar renda para todos, além da insegurança do pós Guerra”, conta. A viagem foi longa e a família chegou ao Brasil no dia 21 de abril de 1954, quando começou uma nova trajetória.
Profissão
A experiência na agropecuária, profissão que sustentava a família Barkema na Europa, foi um dos fatores que motivou a vinda para o Brasil. E, com as oportunidades do novo país, Reinder seguiu os passos do pai no ramo. “A agropecuária tem um modo de trabalhar que permite diversificar a produção, possibilita que, em um pequeno espaço de terra, possamos garantir nosso sustento”, conta.
Com 55 anos de atuação no ramo, principalmente na suinocultura, Reinder é hoje o cooperado mais antigo em atividade na Alegra, indústria de alimentos derivados da carne suína, localizada nos Campos Gerais (PR). Atualmente, com a criação de aproximadamente 3.500 suínos, Reinder dedica 100% da produção mensal para a marca – cerca de 500 por mês.
Em sua criação, o produtor trabalha com o formato de ciclo completo, que envolve desde o nascimento do animal, até o processo de engorda e venda, garantindo que todos os critérios de qualidade exigidos pela empresa sejam cumpridos. Além de manter a tradição dos pais, Reinder viu a história se repetir e passou adiante o amor e cuidado pela função, que hoje também é a profissão de alguns dos seus seis filhos.
Cultura
Além da atividade profissional, a cultura e as tradições holandesas são traços que se mantêm geração após geração na família. Para Reinder, os valores ensinados por seus pais são a principal herança a ser deixada para seus filhos e netos. “Nós aprendemos que palavra tem que valer e que deveríamos sempre seguir praticando o bom exemplo que aprendemos com pai e mãe. Além disso, manter a nossa língua holandesa é essencial, pois ela já diz muito sobre nós, sobre como trabalhamos e pensamos. E a crença que recebi dos meus pais, protestantes, também foi algo que transmitimos para a família”, explica.
Por serem colônias holandesas, Castrolanda, Carambeí e Arapoti também permitem que as famílias mantenham as tradições do país de origem no convívio em sociedade. O imigrante e conselheiro da Associação Cultural Brasil-Holanda, Jan Borg, conta que a convivência entre as famílias da região é essencial para a manutenção dos traços culturais. “A interação com outros imigrantes e descendentes de holandeses faz com que toda a comunidade consiga manter requisitos importantes para a cultura, como a língua, a fé e também a comemoração de datas festivas holandesas”, conta.
Nova geração
Filho de Reinder, Albert Reinder Barkema e seus cinco irmãos também pretendem seguir a tradição do país de origem da família e manter os valores pregados pelo pai. “Como nosso pai e mãe são holandeses, eu e meus irmãos fomos criados dentro dos costumes e cultura dos Países Baixos. Na fé e na educação, temos traços muito fortes dessa tradição, além da tentativa de manter sempre a língua como uma herança que nos identifica”, ressalta Albert.
Para a irmã de Albert, a professora Marjan Barkema Loman, a mudança de gerações não deve interromper a transmissão da cultura que recebeu dos pais. “Tudo o que é ensinado na infância, permanece conosco. As gerações podem mudar, e nós também, mas isso não pode fazer com que percamos nossos princípios. A tradição permanece em nossa família e é passada aos nossos filhos pela rotina diária que temos em casa”, finaliza.